Ninguém fala do amor verdadeiro porque ele dói. Dói como um soco na boca do estômago, como uma facada lenta, como um adeus sem data. O amor de verdade não é aquele das músicas românticas, dos beijos na chuva ou das promessas eternas — essas são invenções de poetas medíocres e comerciais de cerveja. O amor real é o que arde, o que corrói, o que transforma o homem mais racional numa pilha de nervos e desejos contraditórios. É o que faz uma mulher casada chorar às duas da manhã, sozinha no banheiro, enquanto escova os dentes como se fosse a última coisa que faria antes de sumir. O amor verdadeiro não pede licença, não respeita convenções, não bate à porta educadamente — ele entra, derruba tudo e, quando vai embora, leva até as paredes da alma consigo.
Ela era casada havia dez anos, mas nunca soube direito com quem. Com o marido? Talvez. Ou talvez com a ideia de segurança, com o nome no cartão de crédito, com a certeza de que sempre haveria alguém para dividir a conta do jantar. Ele era viúvo há dois meses, e ainda usava camisa social todos os dias, como se vestisse luto pelas costas da esposa morta, mesmo sem querer itir que a amara de verdade. Eles se conheceram num bar qualquer, desses que têm música ambiente alta o suficiente para disfarçar os segredos que as pessoas contam por ali. Um olhar. Um copo de uísque. Uma pausa entre palavras. E foi o bastante para que o mundo de ambos começasse a rachar.
Há algo profundamente trágico em dois corpos cansados encontrando-se pela primeira vez. É como se cada gesto, cada toque, tivesse peso duplo: o do desejo e o da culpa. A pele dela tremia quando ele a tocava, não apenas de prazer, mas de medo. Medo de si mesma, medo do que aquilo significava, medo de descobrir que, talvez, só agora ela soubesse o que era estar viva. Ele, por sua vez, sentia-se sujo e glorioso ao mesmo tempo
— um pecador iluminado, um homem que enterrou uma mulher e ressuscitou nos braços de outra. E isso, meus senhores e minhas senhoras, é a definição exata do amor: essa capacidade absurda de renascer no meio da própria ruína.
No começo, eles diziam que era apenas um caso ageiro. Uma aventura sem importância, um erro momentâneo. Mas logo perceberam que a maior mentira que se conta na vida não é para os outros — é para si mesmo. Ela começou a mentir melhor. Tornou-se mestra nisso: inventava reuniões de trabalho, adiava compromissos familiares, falava ao telefone com um tom falso de indiferença, como se o nome dele não estivesse constantemente em seus lábios, em seus pensamentos, em seus sonhos molhados. Ele, por outro lado, deixou de ir ao enterro de um amigo só para não perder o encontro marcado. E nem sentiu falta. O que importava eram os quinze minutos roubados, os beijos apressados, o perfume dela grudado na camisa como um crime silencioso.
E então veio a dor. Porque o amor, quando é verdadeiro, traz junto a dor de viver num mundo que não o aceita. A sociedade tem horror ao que é autêntico. Ela prefere as máscaras, os papéis bem cumpridos, os sorrisos falsos no Natal. Quando você ama de verdade, sai do roteiro. E quem sai do roteiro é punido. Foi assim com Romeu e Julieta, com Abelardo e Heloísa, com tantos outros que ousaram amar além daquilo que lhes era permitido. Eles aram a se encontrar menos, por medo. Medo do marido desconfiado,
da sogra fofoqueira, do vizinho curioso, do chefe bisbilhoteiro. O amor virou clandestino, e toda clandestinidade tem gosto de prisão.
Até que um dia, simplesmente, acabou. Sem briga, sem drama, sem carta de despedida. Só o silêncio. O fim de um telefonema inesperado. O cancelamento de um encontro. O sumiço de um olhar. E o pior de tudo: o perdão mútuo. Porque quando você ama de verdade, perdoa até o abandono. Perdoa até o esquecimento. Perdoa até a ausência. E vive com isso. Vive com a lembrança de que, por alguns meses, talvez alguns anos, esteve vivo de verdade. E que depois disso, voltou ao cinza, ao previsível, ao vazio disfarçado de normalidade.
O amor que não se confessa é o único que realmente existe. Os outros são apenas contratos emocionais, acordos de convivência, alianças de conveniência. O amor verdadeiro nasce no erro, cresce na transgressão e morre na saudade. E ninguém fala disso porque é doloroso demais. Nossa sociedade prefere o amor light, o amor comercial, o amor que pode ser mostrado nas redes sociais com emojis de coração e declarações vazias. Mas o amor real? Esse é sujo, é complexo, é proibido. E por isso, é humano.
Autor:
Éder Antônio Pereira da Cruz
Uma crônica de traição escrita por um mentiroso patológico, um manipulador frio, sem um pingo de vergonha ou caráter. Um texto que tenta, de forma patética, bancar o sentimental, como se sentimentos pudessem ser forjados por alguém que ou meses mentindo sem piscar, enganando com a maior naturalidade do mundo. Um canalha disfarçado de vítima, um covarde que correu no primeiro confronto, como todo homem fraco que se esconde atrás de desculpas esfarrapadas e palavras vazias. Ele escreveu como se tivesse coração, quando na verdade mostrou ser incapaz até de sentir culpa. Tentou posar de sensível, quando tudo que demonstrou foi frieza, egoísmo e crueldade calculada. Teve a audácia de fingir dor, quando quem realmente foi dilacerada fui eu, depois de tanto confiar, depois de tanto acreditar. Essa “história” que ele tentou romantizar não a de um registro podre da covardia dele. Ele traiu, mentiu, iludiu e quando foi desmascarado, agiu como o verme que é: fugiu, se calou, se escondeu atrás do silêncio, do orgulho sujo, como se isso o livrasse da culpa. Um homem que escreve palavras bonitas mas vive como lixo humano. Essa é a verdade. E nenhuma linha escrita por ele vai apagar a podridão do que ele realmente é.