Nas calçadas digitais da modernidade, ergue-se com frequência a figura do cidadão indignado.
Ele vocifera em letras maiúsculas, compartilha manchetes sem ler o conteúdo, escreve longos desabafos nas redes sociais, e exige providências imediatas do Estado, da imprensa, do universo.
É um ativista de sofá, com os punhos cerrados sobre o teclado e o peito inflado de razão.
Nada escapa à sua vigilância online.
Ele denuncia a corrupção, critica os impostos, lamenta a violência e cobra justiça social.
As redes fervem com sua retórica inflamável.
Ele se apresenta como alguém que vê tudo, sabe de tudo e, acima de tudo, está cansado.
Cansado do sistema, da política, dos políticos, dos “eles”.
Mas chega o momento em que a democracia, essa senhora que caminha lentamente, mas com firmeza, estende sua mão através das urnas.
É hora de sair do mundo virtual e pisar no chão real das escolas públicas, onde o voto é depositado com o mesmo peso, seja de um operário ou de um doutor.
E é aí que o cidadão indignado silencia.
Ele não comparece, ou comparece e anula, ou vota sem saber em quem.
Seu discurso inflamado evapora sob o sol da realidade.
As promessas de mudança, tão fáceis de escrever em posts e tweets, tornam-se palavras vazias diante da cabine eleitoral.
A cidadania, que exige mais do que opinião, exige ação e esta, ele não entrega.
Fica, então, a contradição de um tempo em que se protesta muito e se participa pouco.
Em que se exige transformação sem assumir o papel de transformador.
Talvez porque, no fundo, votar dá trabalho, exige pensar, escolher, responsabilizar-se.
É mais fácil acusar do que construir.
Enquanto isso, a democracia segue seu curso com os votos dos poucos que ainda acreditam no poder do gesto simples de comparecer.
E o cidadão indignado, confortável atrás de sua tela, seguirá berrando para um mundo que escuta cada vez menos não pela falta de volume, mas pela ausência de coerência.
Autor:
CARLOS ALBERTO OMENA