Há uma cadência silenciosa que rege os ponteiros do mundo.
Não é o tique-taque dos relógios, tampouco o apito do trem que parte na hora exata.
É algo mais sutil, mais antigo, um ritmo que escapa à contagem dos calendários e à precisão dos cronômetros.
É o tempo do tempo.
Esse tempo não se mede em minutos ou em meses, mas em mudanças.
Ele se acomoda nas rugas que se formam sem aviso no rosto sereno, na poeira que se acumula sobre fotografias que ninguém mais toca, no modo como um cheiro esquecido de infância ressurge no ar da tarde e silencia tudo.
O tempo do tempo é aquele que transforma sem pressa.
Que amadurece o fruto e também o coração.
Que ensina a deixar ir porque no como dele, tudo tem o seu momento de florescer e de cair.
Ele não se preocupa com a urgência humana, com os alarmes programados ou as listas de tarefas riscadas à pressa.
Observa tudo de cima, como quem já viu nascer e murchar mil civilizações.
Às vezes, parece lento demais.
Outras, veloz demais.
Mas essa percepção é só nossa, de quem tenta aprisionar eternidades em agendas apertadas.
O tempo do tempo não se dobra a vontades, ele escorre. E ensina.
Talvez por isso os mais sábios tenham cabelos brancos pois são os que pararam de correr atrás das horas e começaram a caminhar ao lado dos dias.
Eles aprenderam que há um momento certo para cada coisa e que, quando esse momento chega, o tempo se revela como mestre, não como ladrão.
No fim, o tempo do tempo não a.
Ele permanece.
E nós é que vamos ando por ele.
Autor:
CARLOS ALBERTO OMENA