O uso da inteligência artificial (IA) por estudantes para realizar tarefas escolares, trabalhos acadêmicos e até redações completas tem se tornado cada vez mais comum nas escolas e universidades brasileiras. Com a popularização de plataformas como o ChatGPT, Bard e outras ferramentas generativas, alunos de todas as idades encontram na IA uma forma rápida e eficiente de entregar conteúdos, levantando um debate urgente sobre ética, aprendizagem e o papel da educação diante da tecnologia.
Em apenas alguns segundos, é possível produzir um texto dissertativo, responder a questões complexas de matemática, gerar resumos de livros e até criar apresentações com argumentos bem estruturados. Para muitos estudantes, a IA ou a ser um “atalho” em meio à rotina sobrecarregada e à pressão por boas notas. No entanto, educadores alertam: esse uso indiscriminado pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico, a capacidade de interpretação e a autonomia dos alunos.
Uma pesquisa realizada em 2024 pela EdTech Educascan apontou que 62% dos estudantes do ensino médio já utilizaram inteligência artificial para fazer trabalhos escolares e, em 38% dos casos, entregaram o material como se fosse totalmente de autoria própria. No ensino superior, o número é ainda mais expressivo: quase 80% dos universitários itiram ter recorrido à IA ao menos uma vez para elaborar textos ou projetos.
Apesar de muitas escolas e faculdades ainda não terem políticas claras sobre o uso dessas ferramentas, a preocupação cresce entre professores. Em alguns casos, docentes relatam dificuldade em identificar quando o conteúdo foi produzido por um humano ou por um sistema automatizado. Há também um temor de que, com o tempo, a IA se torne mais uma muleta do que uma aliada.
“Não é a tecnologia que está errada, e sim o uso que se faz dela”, afirma uma professora de redação do ensino médio da rede pública de São Paulo. Segundo ela, há formas pedagógicas de integrar a IA ao processo de aprendizagem — como pedir aos alunos que analisem criticamente o texto gerado por um robô, ou que corrijam erros e aprofundem argumentos. “O problema é quando o estudante terceiriza totalmente o pensamento.”
Outro ponto delicado é o plágio, já que muitos alunos copiam integralmente o conteúdo gerado por IA e o apresentam como se fosse original. Algumas universidades já começaram a utilizar detectores de texto artificial para identificar essas práticas, mas a eficácia desses sistemas ainda é limitada. Em resposta, escolas particulares e instituições públicas estão começando a rever suas políticas de avaliação, priorizando atividades orais, seminários, produções autorais em sala de aula e até tarefas feitas à mão.
Além do aspecto pedagógico, o uso da IA nas tarefas escolares também levanta dilemas éticos. Para especialistas em educação, o grande desafio está em ensinar os jovens a usarem a tecnologia de forma consciente, crítica e responsável. Isso inclui entender os limites da IA, a importância da autoria intelectual e o valor do aprendizado individual.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê o uso da tecnologia como ferramenta de apoio à educação, mas ainda não há diretrizes claras sobre inteligência artificial. Em algumas escolas mais inovadoras, projetos com IA já estão sendo incorporados ao currículo, não como substituto do aluno, mas como ferramenta de construção coletiva do conhecimento.
Para muitos educadores, a resposta não é proibir a tecnologia, mas adaptá-la ao ensino. Em vez de demonizar a IA, o caminho pode estar em preparar professores e alunos para lidar com ela com responsabilidade. Assim como calculadoras e pesquisas no Google já causaram discussões semelhantes no ado, o uso da inteligência artificial na educação pode ser transformador desde que acompanhado de reflexão crítica e ética.
Enquanto isso, o uso crescente da IA pelos estudantes segue como um espelho dos desafios da educação contemporânea: em uma era acelerada e hiperconectada, o conhecimento não está mais ao professor ou ao livro didático. Cabe à escola e à sociedade decidir como formar mentes autônomas em um mundo automatizado.